A sutil diferença entre conversação e conexão
A Conexão Instantânea
Você não precisa falar sobre as mesmas coisas, pensar de forma parecida ou ter vivido experiências similares para que se sinta conectado com alguém. Não é sobre passar por aquilo que o outro passou, nem sobre lugar de fala… pois, por mais que coisas assim façam a gente se sentir próximo de alguém, este texto fala sobre algo mais profundo.
Existem pessoas com as quais não precisamos falar muito, pois elas já entendem facilmente o que queremos dizer. Às vezes tem a ver com a forma similar em relação à qual vemos a vida, ou sobre como nos reconhecemos enquanto parte deste mundo… ou de algo maior. Outras vezes, é porque expressamos sentimentos com palavras e com gestos, nas pausas ou nos olhares, revelando algo mais interno que fala sobre nossos desejos ou emoções. E isso é captado por alguém que possui sensibilidade o suficiente para diferenciar vontades de anseios, ou, ainda, de sentir no silêncio da voz o sussurro da alma.
Conexão não se força ou se compra. Ou a gente tem, ou a gente acredita que tem, ou a gente – doa a quem doer – foca em outra coisa e vida que segue. E se você tem alguém que fala a sua língua em qualquer lugar, acredite… você tem, no mundo, uma parte da sua energia numa outra matéria.
O invisível Jogo de Forca
Na maior parte do tempo, entretanto, tenho tido a impressão de conversar com pessoas que falam outras línguas, têm outros interesses ou (este é muito comum!) só estão esperando a hora deles de falar. Em uma conversação habitual, entre mim e essa galera, sinto como se estivéssemos jogando um Jogo da Forca, ou seja, contando versos, escolhendo palavras… um cansativo joguinho no qual qualquer deslize pode ser crucial. E, na tentativa frustrante de tentar ir mais fundo, me perco nas palavras ou na desatenção do outro e a corda no pescoço fica cada vez mais apertada. Algumas vezes, parece que a pessoa não é mesmo capaz de entender. Em outras, questiono se estou sendo clara o suficiente.
Não devemos comparar ninguém a ninguém… dizem! Porém, neste mundo em que cada um é tão diferente e temos os nossos preferidos, as conversas que fluem fazem falta e o exaustivo Jogo da Forca me faz duvidar sobre quanto de nós consegue se manter diante de doses exageradas de conversas vazias, em contraste com abstinência de conexão.
Conexões reais ou utilitárias?
OK! Mas é muito do que temos para hoje. Então, por outro lado, quem disse que precisamos de tanta “conexão”? Essa necessidade de ser compreendido, de dizer e ser escutado com atenção, ou de nos vermos no outro, sentindo uma visão de mundo compartilhada que nos traz certo conforto na existência… talvez seja também um pouco de armadilha do ego. Vale a pena saber separar direitinho os primeiros, que são aqueles de quem gostamos pelo que são… dos segundos, que são as pessoas que queremos manter por perto somente pelo conforto que trazem quando nos escutam. O problema dos segundos é a sua duração de segundos… só fazem sentido enquanto não temos algo mais importante para fazer ou alguém mais interessante no momento.
Silêncio eloquente
É natural, mágico e incrível conversar com alguém que está na mesma frequência que você. PONTO. Para isso não existem regras, nem dúvidas, mas também normalmente não é uma escolha. A vida nos traz pessoas assim, mas nem sempre são aquelas pessoas que manteremos por perto, por um zilhão de motivos imagináveis e impensáveis. E na busca de conexão acabamos nos perdendo, pois algo tão especial não pode ser fabricado. E, algumas vezes, conexões se transformam momentaneamente em Jogos de Forca… e precisamos de muito jogo de cintura para que não coloquemos tudo a perder.
Se existe, para você, algum sentido neste texto… sinto que você tem sorte! A parte da conexão que não é do ego falando traz emoções difíceis de serem experienciadas numa vida comum. Trazem vontade de viver mais, do relógio parar, de risadas repentinas. Conexões profundas são conversas em outras dimensões, são palavras que ficam ressonando em todo o corpo, são memórias bobas e até vergonhas repentinas.
Quer saber? Este texto irá parar por aqui, com a pergunta que me veio… como explicar a conexão, se ela justamente é quando não precisamos explicar?